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sábado, 25 de julho de 2009

Poemas do Apê - Longe de mim fique o amor

Longe de mim fique o amor

Longe de mim fique o amor
Esse sentimento que brotava do meu peito
Como uma nascente de um imenso rio
Na juventude dos meus dias.
Ninguém em minhas águas mergulhou,
Ninguém descobriu o meu amor
E o rio que formei
Tornou-se o oceano onde me afoguei.
Nada mais quero com o amor.
Não desejo mais afeto,
Não quero nenhuma atenção.
Guarde a compaixão e a bondade,
Não procurem compreensão.
Minhas águas evaporaram
Expondo o triste cadáver do meu ser
Que no início acreditou no amar
E em sua própria vontade
Acabou por morrer.

sábado, 18 de julho de 2009

Poemas do Apê - História de um Beija-Flor

História de um Beija-Flor

Beija-flor viajante que voa sem parar,
Em cada ponto encontra uma flor bela
A quem vai beijar
Como se fosse a primeira e única
Dama e dona de todo seu amar.

Beija-flor viajante que bate asas sem parar,
Precisa dos beijos para seu coração
Jamais descansar
E nas flores belas todos seus beijos
Vai depositar.

Beija-flor viajante que um dia encontrei,
Estava tão mal,
Teria os beijos deixado de dar?
Por curiosidade perguntei o que havia,
O porque de tanta melancolia.

Beija-flor viajante então respondeu,
Batendo asas com tal tristeza que entristecia
A quem passava e o via,
Que as flores belas já não mais existiam
E que ele, em breve, também morreria.

Beija-flor viajante em pranto relatava
O fim que cada flor encontrou;
Suas belezas foram cúmplices
Bem como cúmplice
Foi o seu amor.

Beija-flor viajante então revelou
A doença que carregava
E que em cada flor depositou.
Tratava-se da AIDS
E ao falar isso bateu asas
E voou.

Beija-flor viajante nunca mais encontrei.
Dizem que caiu pela doença,
Dizem que não suportou a dor da culpa
Mas a única verdade em que posso acreditar
É que ele morreu com lágrimas no olhar.

sábado, 11 de julho de 2009

Poemas do Apê - Caso na Favela

Caso na Favela

O corpo caído
Estendido no chão
Foi vítima, era bandido,
Um inocente com arma
Na mão?

O pó branco espalhado
Era farinha, era heroína,
Cocaína, uma droga,
Quem sabe o que era
Que ele tinha
Na mão?

O sangue espalhado
Era vermelho, era rubro,
O ferimento não parava,
Ninguém socorria,
Deixavam o menino
Na mão?

Gemia, chorava,
Levantava a mão.
Não pedia ajuda,
Não pedia clemência,
Só queria ser guiado,
Levado para paz
Pela Mão.

Quanta ignorância, não sabiam,
Pensavam que queria escapar.
Tiros mais deram,
Sangue mais se espalhou.

A arma era de brinquedo,
O pó branco era açúcar,
Ele só corria
Porque um doce
A mãe fazia.

Faltava açúcar,
Fora comprar,
Voltava correndo,
Os policiais nem perguntaram,
Foram logo atirar.

Só porque era pobre,
Só porque era negro,
Só porque estavam na favela,
Só porque tinham medo.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Conversa de Apê - Dias sim, dias não

Como diria a música do Cazuza, "dias sim, dias não, eu vou sobrevivendo sem um arranhão...". Não que eu ande brigando, mas a vida sim é de luta, do dia a dia, mês a mês...
Apesar de ter um monte de coisas para organizar aqui (sim, eu gosto de deixar as coisas organizadas até demais), sei que a luz do final do túnel está chegando, e não é o trem... e talvez nem sozinho mais eu esteja...

sábado, 4 de julho de 2009

Poemas do Apê - A Cidade da Salvação

A Cidade da Salvação

O mendigo anda sem destino descalço pela calçada,
Procurando em cada monte de lixo um pouco de comida,
Em cada lata um trocado,
Em cada trocado um filtro apagado.

O mendigo tem um passado que hoje prefere esquecer,
Tem que pensar no que vai achar para poder sobreviver,
Em cada fruta podre uma refeição,
Em cada refeição o seu pão.

O mendigo ali está, sentado, esticando a mão,
Pedindo de cada um compaixão,
Um pouco de pena, caridade,
Que ele não quer morrer nessa cidade.

A cidade da salvação ainda está longe de seus olhos.