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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

2010, Mais um ano...

Mais um ano chega ao fim. E quantas coisas aconteceram neste período...

Entes queridos nos deixaram, e com muita dor e saudades ficamos, mas novas vidas nos foram abençoadas, nascidas neste ano ou prestes a vir no novo ano. São as gerações que se sucedem como ondas a chegarem à praia da existência.
Houve corações que se separaram, corações que se encontraram, corações que se uniram e corações que se fortificaram no decorrer destes meses. Houve também aqueles encontros rápidos, encontros distantes, encontros virtuais e aqueles bem reais, que se não duraram o suficiente para chegarem a amadurecer, pelo menos arderam o suficiente para marcarem nosso ser.

Foi um ano que, na grande escalada, alguns desceram em busca de respostas perdidas no caminho, outros pararam para descansar e recuperar as forças e outros prosseguiram, focando o topo da grande montanha dos nossos desafios.

E quantos desafios nos foram passados nesses dozes meses! Como seria enfrentá-los sem aquelas pessoas especiais e motivadoras, algumas chatas, severas e idiotas, outras esperançosas, otimistas e irritantemente inocentes, que conseguem trazer tanto estresse e bom humor ao mesmo tempo em que nos impedem de enlouquecer? Com certeza, não seria a mesma coisa. Com certeza, próximas ou distantes, de contato constante ou nem tanto, elas fizeram a diferença na vida de cada um, cada um a seu modo, com seu jeito, consciente ou inconsciente dos seus atos.

E as coisas são assim e a vida é assim. E por mais estranhas e incoerentes que elas pareçam ser, elas estão exatamente como deveriam estar, dentro do plano maior em que nos encontramos. Podem não parecer corretas nem certas, parece existir injustiças e há pouca luz ao nosso redor, mas as letras ainda estão sendo escritas nas linhas tortas. E algumas vezes nem as letras nem as linhas estão tortas, é apenas nosso ponto de vista.

Que nesta época corrida, sendo ou não cristão, sirva para refletir, revisar, renovar seus valores, metas e objetivos. Que o nascer do novo ano traga novas energias e limpeza de corpo e mente, pois todos nós estamos interligados e sempre haverá alguém que depende ou dependerá de você, bem como sempre haverá alguém de quem você depende ou dependerá.

A todos um Natal Próspero e um Ano Novo Inovador.

Meus sinceros abraços,
Alexandre Enobe

12/2010

sábado, 18 de dezembro de 2010

#193 - Textos Antigos - O que a Vida Significa?

Resgatando textos antigos... e bota antigo nisso, é de 09/09/2005...

Afinal, o que a vida significa?

Esta é uma pergunta simples, mas com respostas variadas. Podemos filosofar em cima disso ou ir direto ao ponto. Podemos, e vamos, morrer sem respostas a respeito disto. Mesmo assim nos questionamos, queremos saber o motivo de estarmos aqui, e se vamos continuar aqui no dia de amanhã. De fato, nada é tão certo quanto a morte, mas a vida... o que ela é na verdade?

O que queremos, quem ou o que desejamos. Chego ao ponto de questionar o que é a felicidade. Ou o que é a morte? O que é existir? Não sei quem disse isto, mas esta pessoa falou que nós só morremos mesmo quando nosso último vestígio desaparece da Terra, e assim não há mais nada no mundo que lembre às próximas gerações que nós existimos. Creio que foi o Pessoa, mas posso estar enganado...

Último vestígio nosso desaparecer... será que isso, para nós, meros mortais, demora? Tudo bem, temos nossa família, amigos. Mas até onde a chama de nossa vida se mantém acessa? Ou será que seremos apenas sinapses de mentes que nunca irão refletir nossa verdadeira alma? Mais questões para uma simples questão sobre a vida.

E outro dia, no trem, um rapaz sentou-se no meu lado e ele não parava de escrever. Não era conto ou poesia, era um texto, algo de sua imaginação? Que fosse, eu sabia que não sentia a liberdade que ele sentia para escrever na presença de outros. Sempre é difícil deixar a mente trabalhar quando você sente que alguém te espia sobre o ombro. Engraçado que isto não acontecia no Canadá...

E lá no exterior foi coincidência eu ter ter me encontrado com a Gabriela, no mesmo trem, vagão, aliás, ela estava do meu lado, uma garota que estudou na mesma universidade que eu estudei? Coincidência ou fatos da vida? Que diabos, voltei a esta questão!

O fato é que não consigo saber decifrar isso, não consigo relacionar a vida, o amor, o ódio, a morte, tudo no sentido da existência. É tudo tão difícil assim? Bom, não ao todo, mas continua sendo difícil de ordenar minhas ideias com todas essas coisas...

domingo, 12 de dezembro de 2010

#192 - Limpeza Virtual

O arquivamento digital hoje é muito fácil e cômodo. Você gosta de algo, precisa deixar um arquivo guardado, salvar um documento, é possível fazer isso por diversos meios: na memória do PC, num pen-drive, CD, DVD, memória externa diversas... mas será que vale a pena deixar salvo tantos arquivos?

Alguns emails antigos estou guardando, como forma de documentação. Outros arquivos digitais podem ser deletados, por não fazer sentido algum deixar na memória do PC, mas e aqueles arquivos que não estão sendo úteis agora mas poderão ser daqui a alguns anos? Ó dúvida cruel...

Estes textos todos, pelo menos, um dia vão ser apagados da net... ou não... :P

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

CINCO MESES

Sabe quando você precisa desabafar com alguém, mas nunca tem esse alguém por perto na hora que precisa, ou não se sente à vontade para se abrir quando se está perto dessa pessoa?

Estes últimos meses eu passei muito por isso...

Lembro da virada no ano. No dia 2 de janeiro eu deixei a casa dos meus pais para voltar para São Paulo por causa do trabalho. E nessa primeira semana minha mãe me comunica que meu pai não conseguia mais andar. Foi o primeiro choque.

Meu pai tinha caído cerca de um mês antes e os exames mostraram uma fissura na coluna. Os médicos, nesse primeiro exame, já queriam internar e fazer a operação, mas o médico que acompanhava meu pai no tratamento da doença de Parkison não aconselhou este procedimento, porque ele já era de idade e uma cirurgia imediata na área da coluna era arriscada demais.

Durante todo final de 2009, apesar da dificuldade, ele ainda caminhava. Mesmo com tratamentos, a coluna foi se deformando, a ponto de atingir um nervo que afetou suas pernas. E foi isso que o fez parar de andar logo na primeira semana de 2010.

Quando eu voltava para casa dos meus pais, durante o mês de janeiro, lembro do meu pai na cadeira de rodas, lembro de procurar uma bomba para encher os pneus da cadeira, e da última vez que conversei com ele em casa, falando para ele se esforçar para tentar levantar sozinho da cadeira e sentar na cama.

Devido o Parkison, ele tinha dificuldades de se levantar e para atividades simples como ir ao banheiro era sempre acompanhado de muito esforço. Muitas vezes ele não conseguia se levantar e acabava fazendo duas necessidades no quarto, onde deixávamos já o urinol. Acrescido ao novo fato de não poder andar, isso o prejudicou ainda mais em todas as tarefas simples.

Lá em casa viviam na época minha mãe e meu irmão. É um sobrado, com o bazar da família, onde os dois trabalham, e deixávamos uma campainha ao lado do meu pai ou de tempo em tempo alguém ia ver como ele estava. Na maior parte do tempo ou ele estava vendo tevê ou estava dormindo.

A necessidade também de ir vê-lo a todo momento não era apenas devido à falta de mobilidade, mas também por causa dos horários dos remédios. Eram cerca de 4 a 5 comprimidos diferentes a cada duas horas, todos contra o Parkison.

Entrou fevereiro. Era quinta-feira, dia 11, meu aniversário, oito da noite. Recebi um telefonema de minha mãe avisando que meu pai fora internado. A internação havia sido no começo da tarde, mas com toda correria só conseguiram me avisar àquela hora. Foi o segundo choque.

Eu estava com alguns amigos, num restaurante japonês. Não sabia o que dizer. Não sabia o que fazer. Não tinha o que falar. Minha mãe apenas passou alguns detalhes do que aconteceu. Pressão baixa. Desmaio. Resgate. Hospital. UTI. Nada mais.

Voltei para casa na sexta-feira e nesse mesmo dia fui para o hospital. Meu pai estava internado na UTI, respiração forçada, monitores cardíacos, pele machucada e arroxeada. Inconsciente. Veio a imagem da minha mãe internada na mesma UTI, anos antes, depois da retirada da pedra da vesícula. Na época ela estava consciente. Agora era meu pai. Inconsciente. Máquinas o mantinham respirando. Terceiro choque.

Um mês na UTI, visitas semanais para ver algum progresso na recuperação. Infecção hospitalar. Sepse. Ninguém conseguia me dizer qual era o problema. Chegou com quadro de desnutrição e teve compulsões. Ninguém me explicava nada. Tudo era entrecortado.

11 de março. Aniversário do meu irmão. Minha mãe me liga e diz que meu pai saiu da UTI. Felicidade temporária. Aumento da preocupação. Na UTI havia cuidados a toda hora, no quarto era apenas algumas vezes. Era preciso ter um acompanhante a toda hora.

Durante a semana, minha mãe ficava no período noturno, e de dia a diarista e a mulher que cuidou da minha avó revezavam como acompanhante. No final de semana, de sábado para domingo, eu ficava no hospital, quase sempre acordado.

Era preciso usar um avental e, toda vez que fosse entrar em contato com meu pai, era preciso usar luvas. Poucas vezes ele ficava consciente, em nenhuma delas conseguiu falar.

Eu fazia massagem em seus pés, mãos e braços. Chamava a enfermeira para retirar o excesso de catarro do pulmão dele pela traqueostomia. Era a aspiração. Ajudei algumas vezes na troca das roupas de cama, da fralda geriátrica, nas visitas das fisioterapeutas. Tentava animar levando meu notebook e colocando músicas de Okinawa. Falava com ele que para ele se recuperar logo, porque seu neto havia nascido e ele tinha que conhecê-lo. Eu buscava ajuda das minhas amigas Rosa e Dyana, da Itália e da Coréia, que eram quem sempre estavam online durante a madrugada. Eu não sabia o que fazer.

As poucas vezes que meu pai acordava eu não sabia se ele estava realmente consciente. Eu segurava suas mãos e ele apertava, mas não sabia se era por reflexo ou porque sabia que eu estava lá. Seu olhar ficava perdido no teto, algumas vezes se encontravam com os meus e ficavam parados, mas não pareciam me reconhecer. Não pareciam me reconhecer.

Médicos iam e vinham. Falavam em melhoras, em infecção, em quadro estável, melhora tímida. Consegui minhas férias. Pegava dois ou três dias para descansar e ficava o resto da semana lá. As férias terminaram. Voltava a ficar nos finais de semana. Isso se repetiu até o mês de julho.

Dia 8 de julho. Quatro da tarde. Estava às voltas com um problema da obra envolvendo projetista, cliente, fiscalizadora. Estava vendo um email que o coordenador da obra havia elaborado e ele queria saber se estava certo aquilo que ele tinha escrito. Meu celular tocou. Vi que era de casa. Era meu irmão. Naquele momento, achei que era para saber se eu ia voltar na sexta de noite ou sábado de manhã. Não. O telefonema não era para fazer uma pergunta. Era para informar. Meu pai tinha falecido.

Me levantei e fiquei olhando a porta da saída e ao redor do escritório. Eu queria subir até a cobertura e gritar. Eu queria sumir dali. Eu queria sentar em algum lugar e ficar cercado de silêncio, para poder entender aquela frase. "Papai morreu..."

Lembro da Flávia, da qualidade da obra, e a Gilvânia, administrativa, me abraçarem, perguntando o que havia, e eu não conseguia falar. Lembro de ter dito baixinho "faleceu". E lembro também que não podia ficar mal. Tinha que ficar forte para estar do lado da família. Quem era eu para ficar daquele jeito? Eu tinha que estar presente para apoiar a todos.

Lembro da Gilvânia me entregando o tíquete para solicitar um táxi. Lembro do fiscalizador da obra aparecer me chamando para falar de mais algum problema, uma ou duas vezes, e eu, no telefone, o ignorei, e a Gilvânia foi explicar a situação. Lembro da Carol, estagiário, não ter entendido o que havia ocorrido. Lembro de pegar o táxi, do trânsito para chegar em casa. Lembro do recado da Rosa via celular, quando eu mandei a notícia. Naquela noite, velei o corpo do meu pai.

Passei a noite ao lado do caixão, junto com o segurança que fazia rondas pela vizinhança. Caixão lacrado porque havia risco de infecção. Depois de tantas noites em claro, aquela seria a última que estaria ao lado do meu pai.

Meus amigos de São Paulo vieram, Muitos deles. Minha mãe e minha tia ficaram felizes por ele terem vindo.

Tantas coisas passaram por minha cabeça. Depois que passei na Unicamp, houve uma noite que acordei por causa de um barulho e fui até o quarto do meu pai, e eu o encontrei caído no chão, desorientado. Dias me perguntando se eu realmente deveria sair de casa para ir para a Unicamp ou ficar em casa cuidando dos meus pais.

Sentimento de culpa. Eu poderia ter feito mais quando estava no hospital. Poderia ter conversado mais, colocado mais músicas, feito mais massagens.

Sentimento de revolta. Não houve nenhuma manifestação por parte do RH da empresa, nenhuma nota de falecimento como eles sempre mandam nessa situação.

Sentimento de alívio. Ele não estava mais sofrendo.

Sentimento de vazio.

Sentimento de fracasso. Quando namorava, não aprensentei ela à família, porque ela não queria ser apresentada assim. Não constituí família antes dele partir. Não tive um filho para com ele sorrir. Não consegui retribuir este amor.

Voltei ao trabalho antes de dar uma semana, porque precisava ocupar minha mente.

Fiz algumas mudanças para cicatrizar a ferida.

Faltava este desabafo.

Hoje faz cinco meses.

A ferida ainda dói.

#190 - Textos do Apê - Lembra-se?

Lembra-se daquele abraço que me prometeu, dos passeios de mãos dadas, dos fins de tarde no parque e dos filmes debaixo das cobertas na sala?

Lembra-se das flores nas datas especiais, dos encontros semanais, telefonemas noturnos e suspiros que não acabavam mais?

Lembra-se dos bichos de pelúcia, de todos os nomes que para eles você criou, de cada recordação e sentimento que eles guardaram, e de cada recado apaixonado que pela casa ficava espalhado?

Lembra-se dos tempos desesperados, das horas de aperto, dos dias corridos e dos amigos esquecidos?

Eu queria lembrar... mas o que você fez... apagou tudo isso do ar...