"Pensemos naquela time de futebol, aquele que tem uma torcida que a ama e uma outra torcida que ama odiá-lo.
Seus torcedores batem no peito, tatuam seu amor pelo time, acompanham nas vitórias, derrotas. Seja o mundial, seja a segunda divisão, estão lá, sem nunca abandonar. Se falar mal, nossa, aí é uma briga, uma discussão generalizada. Se falar bem, é irmão, companheiro, é da turma.
Claro que esse time tem problemas. Talvez alguns investimentos não tenham saído conforme o planejado, talvez houve um gasto indevido em uma área, mas mesmo assim o amor pelo time é maior que tudo isso. Mas se acontece algo internamente que revolte seus torcedores, não há perdão, eles protestam, erguem suas faixas, reclamam.
Mas essas coisas acabam passando, são esquecidas ou apagadas, bola pra frente, há mais campeonatos para jogar. Porque se concentrar nesses problemas, se prender ao passado, isso de nada servirá para ganhar mais uma competição. Sim, os torcedores desse time reconhecem que há pontos a melhorar, também reconhecem que é possível melhorar, não desistem de seu time.
E a torcida rival, que adora provocar? A torcida rival vai, com razão, defender seus times de coração. Ou porque tem mais títulos de mundiais que o outro, ou porque nunca foi rebaixado, ou porque tem o melhor estádio. E da mesma forma eles reconhecem os pontos fortes e fracos dos seus times, também reclamam se algo não vai bem, também reconhecem quando vão bem, também não abandonam a equipe.
E qual outro ponto comum entre as duas torcidas? Elas sabem reconhecer os pontos fortes do time adversário. Não vamos generalizar um ou outro fanático, mas sim daqueles que acompanham de perto seu time. Situação financeira, elenco, diretoria, quem é o melhor zagueiro, artilheiro. Um torcedor que acompanha de perto seu time sabe reconhecer o que seu adversário tem de bom e ruim, por mais que tente puxar a sardinha para seu lado.
Mesmo aqueles que não têm time, que tanto faz, que fede igual, se entende de futebol sabe dizer quais os pontos positivos e negativos dos times. Sabe reconhecer o trabalho de um técnico e de outro, mesmo que tenha antipatia por qualquer um deles.
Esses são os torcedores de futebol.
Agora pensemos naquele partido político, que tem eleitores apaixonados e eleitores que adoram odiar.
Esse partido no poder fez muitas coisas em determinadas áreas, avançou e melhorou a vida de muitas pessoas. Seus eleitores vão defender esses argumentos até o fim com argumentos verdadeiros. Claro que nesse percurso houve problemas, eles vão reconhecer. Claro que o partido pode melhorar ainda mais.
Os outros partidos vão atacar esse primeiro partido. Irão focar nos problemas, nas áreas esquecidas ou pouco lembradas por sua gestão. Seus eleitores vão atacar, também com argumentos verdadeiros, suas posições. Irão defender que, quando o partido deles estava no poder, muitos outros setores avançaram e melhoram a vida de muitas pessoas também.
Mas, ao contrário do futebol, aqui os eleitores de um partido não reconhecem os avanços do outro. Ambos os lados só repetem cegamente as ofensas e tratam de se prender no passado.
E de que adianta comparar a vida de 20 anos atrás com a de hoje, como alguns fazem, e comparar a vida de 5 anos atrás com a de hoje, como outros fazem? Por que não ver a vida de hoje e pensar em como deixá-la melhor daqui a 5 ou 20 anos? Por que os eleitores que defendem com tanta paixão seus partidos não reconhecem os problemas de sua gestão, seja no passado, seja no presente, e cobrem pelas melhorias?
Se for um paralelo com os times de futebol, então estaríamos falando da seleção. Não importa qual seja seu time, é a nação que está sendo representada. Mas o que se vê hoje não é uma representatividade. O que se vê hoje é uma divisão interna, fruto de discursos por parte de dois partidos principais, por parte de militantes, por parte da rede social, por parte da mídia também, por que não.
E no meio de tudo isso tem gente ganhando muito dinheiro, alheio a essas brigas políticas, sem se preocupar sobre qual partido será o vitorioso do embate: o caixa continuará crescendo.
E ficarão os eleitores-torcedores em sua luta cega na defesa dos ideais do seu partido.
Que a nação descanse em paz."
